No dia 19 de setembro, o Banco Central anunciou uma nova metodologia para o cálculo de endividamento das famílias brasileiras. No começo da semana, dados do próprio BC apontam um aumento da inadimplência no Brasil, que atingiu em agosto 5,3%, o maior percentual desde 2010.
Dados da Caixa Econômica Federal mostram ainda que cresce entre os brasileiros a opção por empréstimos de juros mais caros, tendo à frente os cheques especiais, para pagar dívidas. Este cenário viabiliza a pergunta: temos no Brasil uma bolha no nosso setor de crédito?
Banco Central e analistas ouvidos por esta Tribuna não acreditam em bolha, mas apontam aspectos preocupantes. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, do BC, o indicador de endividamento é obtido pela divisão do saldo de crédito no sistema financeiro nacional às pessoas físicas com a massa salarial disponível, que foi ampliada com a inclusão dos ganhos com rendimentos financeiros.
No antigo formato de apurar o endividamento, o país alcançava o patamar de 26,6%, que foi reduzido para 21,1%. “Não é patamar assustador, mas a tendência continua crescente e, por isso, precisa ser observado”, avaliou o diretor de fiscalização do BC, Anthero Meirelles, segundo quem a nova metodologia visou adequar as regras brasileiras ao sistema adotado em outros países.
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, as medidas que vêm sendo adotadas pela autoridade monetária visam mais garantir segurança ao sistema. Cita por exemplo a elevação gradual do crédito compulsório, de 40% para os atuais 60% e o aumento no pagamento mínimo das faturas de cartão de crédito (de 10% para 15%).
“O Banco Central está com medo de que a inadimplência cresça e isso afete os bancos e o sistema financeiro”, disse. No atual cenário, continua Oliveira, é mais difícil as medidas provocarem aumento na procura por crédito. “(Com o cenário internacional) essas medidas não vão elevar o crédito. No futuro, quando a situação estiver mais tranquila, pode ser que aumente”.
Outras duas alterações foram comunicadas no Relatório de Estabilidade Financeira A primeira delas foi o cálculo com base no juro praticado nos últimos 12 meses. Já nos créditos imobiliários, está sendo adotada agora a tabela SAC, no lugar da Price. Enquanto a amortização da SAC é constante, na Price, os abatimentos são reduzidos ao longo do tempo.
“O indicador de comprometimento de renda era calculado a partir da taxa de juros no mês corrente, isto é, da taxa referente aos novos empréstimos. Imputava-se, assim, a toda a carteira de empréstimos, contratada ao longo dos últimos anos, o custo inerente às condições correntes no mercado de crédito, o que tendia a exacerbar a volatilidade do indicador”, justificou a autoridade monetária.
“A solvência do sistema bancário permaneceu em nível adequado e estável. O aumento da exposição aos riscos foi acompanhado pelo aumento da base de capital, principalmente em decorrência da incorporação de lucros.
Os resultados dos testes de estresse, em todos os cenários analisados, inclusive naqueles mais pessimistas, indicam que o capital regulamentar do sistema bancário permaneceria acima do requerimento estabelecido pelo BC”, afirmou o Banco Central, em nota. A reportagem procurou o BC para ouvi-lo sobre as motivações das medidas, o risco de aumento do endividamento e da inadimplência no Brasil, mas o órgão não respondeu.
Membro do Conselho Federal de Economia, o economista baiano Paulo Dantas, considera que a inadimplência está crescendo em virtude do crédito mais fácil. “Há uma liquidez maior nas instituições financeiras que concedem crédito sem muito rigor, aumentando a inadimplência. As operadoras de cartão de crédito não têm o menor critério”, exemplificou.
Dantas acrescenta que no Brasil o crédito é mais pulverizado – número maior de contratantes com operações de valores mais baixos -, o que torna as possibilidades de uma bolha menor. Em outra comparação, Paulo Dantas lembra que durante a crise de 2008, os Estados Unidos registrava alavancagem de até 60 vezes o patrimônio líquido dos bancos, enquanto no Brasil o volume total emprestado chega no máximo a 12 vezes o patrimônio líquido.
O vice-presidente da Anefac reconhece como arriscada a guinada do Banco Central, que vinha realizando uma política restritiva de crédito – com vistas a contenção da inflação – e em agosto reduziu a taxa básica de juros em 0,5%. “Se o cenário internacional está alterado, não adianta você ficar preocupado só com a inflação”, disse.
O executivo avalia que as medidas são insuficientes, reforçando a previsão de que novo corte na taxa de juros seja decidido na nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 18 e 19 deste mês. “O BC vai ter que fazer mais algumas coisas. O que ele realizou para restringir o crédito, vai ter que alterar agora”.
Do Tribuna da Bahia Online
Dados da Caixa Econômica Federal mostram ainda que cresce entre os brasileiros a opção por empréstimos de juros mais caros, tendo à frente os cheques especiais, para pagar dívidas. Este cenário viabiliza a pergunta: temos no Brasil uma bolha no nosso setor de crédito?
Banco Central e analistas ouvidos por esta Tribuna não acreditam em bolha, mas apontam aspectos preocupantes. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, do BC, o indicador de endividamento é obtido pela divisão do saldo de crédito no sistema financeiro nacional às pessoas físicas com a massa salarial disponível, que foi ampliada com a inclusão dos ganhos com rendimentos financeiros.
No antigo formato de apurar o endividamento, o país alcançava o patamar de 26,6%, que foi reduzido para 21,1%. “Não é patamar assustador, mas a tendência continua crescente e, por isso, precisa ser observado”, avaliou o diretor de fiscalização do BC, Anthero Meirelles, segundo quem a nova metodologia visou adequar as regras brasileiras ao sistema adotado em outros países.
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, as medidas que vêm sendo adotadas pela autoridade monetária visam mais garantir segurança ao sistema. Cita por exemplo a elevação gradual do crédito compulsório, de 40% para os atuais 60% e o aumento no pagamento mínimo das faturas de cartão de crédito (de 10% para 15%).
“O Banco Central está com medo de que a inadimplência cresça e isso afete os bancos e o sistema financeiro”, disse. No atual cenário, continua Oliveira, é mais difícil as medidas provocarem aumento na procura por crédito. “(Com o cenário internacional) essas medidas não vão elevar o crédito. No futuro, quando a situação estiver mais tranquila, pode ser que aumente”.
Outras duas alterações foram comunicadas no Relatório de Estabilidade Financeira A primeira delas foi o cálculo com base no juro praticado nos últimos 12 meses. Já nos créditos imobiliários, está sendo adotada agora a tabela SAC, no lugar da Price. Enquanto a amortização da SAC é constante, na Price, os abatimentos são reduzidos ao longo do tempo.
“O indicador de comprometimento de renda era calculado a partir da taxa de juros no mês corrente, isto é, da taxa referente aos novos empréstimos. Imputava-se, assim, a toda a carteira de empréstimos, contratada ao longo dos últimos anos, o custo inerente às condições correntes no mercado de crédito, o que tendia a exacerbar a volatilidade do indicador”, justificou a autoridade monetária.
“A solvência do sistema bancário permaneceu em nível adequado e estável. O aumento da exposição aos riscos foi acompanhado pelo aumento da base de capital, principalmente em decorrência da incorporação de lucros.
Os resultados dos testes de estresse, em todos os cenários analisados, inclusive naqueles mais pessimistas, indicam que o capital regulamentar do sistema bancário permaneceria acima do requerimento estabelecido pelo BC”, afirmou o Banco Central, em nota. A reportagem procurou o BC para ouvi-lo sobre as motivações das medidas, o risco de aumento do endividamento e da inadimplência no Brasil, mas o órgão não respondeu.
Dantas acrescenta que no Brasil o crédito é mais pulverizado – número maior de contratantes com operações de valores mais baixos -, o que torna as possibilidades de uma bolha menor. Em outra comparação, Paulo Dantas lembra que durante a crise de 2008, os Estados Unidos registrava alavancagem de até 60 vezes o patrimônio líquido dos bancos, enquanto no Brasil o volume total emprestado chega no máximo a 12 vezes o patrimônio líquido.
O vice-presidente da Anefac reconhece como arriscada a guinada do Banco Central, que vinha realizando uma política restritiva de crédito – com vistas a contenção da inflação – e em agosto reduziu a taxa básica de juros em 0,5%. “Se o cenário internacional está alterado, não adianta você ficar preocupado só com a inflação”, disse.
O executivo avalia que as medidas são insuficientes, reforçando a previsão de que novo corte na taxa de juros seja decidido na nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 18 e 19 deste mês. “O BC vai ter que fazer mais algumas coisas. O que ele realizou para restringir o crédito, vai ter que alterar agora”.
Do Tribuna da Bahia Online